segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Quem disse que sumiu? (de arrepiar)

UFMS: protesto estudantil ganha fôlego e faz história

Um novo capítulo na história do movimento estudantil está sendo escrito em Campo Grande. Os autores são jovens, mas com conhecimento e experiência suficientes para fazer boa literatura. O assunto principal dessas páginas é a mudança no sistema de votação para reitor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), mas há detalhes significantes escondidos nas entrelinhas.

O capítulo é construído ao som de rock e MPB e em meio a um cenário feito de cartazes, frases, colchões e barracas. Esse novo capítulo chega, hoje, a sua 12ª página. O desfecho é uma incógnita, mas o que foi escrito até então assegura uma certeza: o movimento atinge proporções há tempos não vistas no universo estudantil do estado.

Há 12 dias, mais de uma centena de estudantes trocaram seus endereços. Deixaram apartamentos e casas e se mudaram para a reitoria da UFMS. Seus quartos são o hall do prédio e barracas. A pequena montanha de colchões e cerca de 50 barracas oferecem idéia da quantidade de ocupantes.

A persistência é a estratégia que encontraram para que seus votos possam ser tão importantes quanto os de seus professores – pelas regras atuais, os votos de estudantes e funcionários pesam 30% e os dos professores, 70%. Uma frase – que divide espaço com tantas outras em um cartaz no hall da reitoria – traduz o espírito dessa estratégia. Diz a frase: “A ousadia é a mãe do sucesso”.

As necessidades básicas cotidianas e a natureza do movimento exigiram a ordenação dos acadêmicos em diversas comissões: Infra-estrutura, Cultura e Arte, Negociação, Jurídica, Comunicação, Limpeza, Segurança e Mobilização. Todos esses grupos têm incumbências relevantes e necessárias, que respondem pela expansão do movimento e por sua duração.
Os estudantes não só ocuparam a reitoria, mas também os espaços de jornais locais e da grande mídia nacional. Também recebem apoio de movimentos sociais do estado e de outras partes do país. Em uma das paredes do hall, estão afixadas moções de apoio assinadas por entidades estudantis, como os DCEs da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e da UnB (Universidade de Brasília), por políticos e por lideranças religiosas.

As entrelinhas - Nesse horizonte, vê-se de perto apenas a bandeira pela paridade nas eleições para reitor. Mas, numa atenção mais apurada, pode-se notar também a gestação de valores democráticos em jovens antes distantes do universo do movimento estudantil. São as entrelinhas do capítulo. Um dos exemplos é o caso da aluna de Enfermagem Mônica Junges, 23. Ela conta que foi atraída pelo espaço descontraído, mas terminou aderindo a algo mais sério: a necessidade de mudanças na instituição onde estuda.

Diferente do que possa sugerir um espaço com dezenas de jovens, o local não é de festas sem compromisso. Os tantos corpos para se alimentar, dormir e se banhar, suscitam condições que tornam pesada a rotina. Os acadêmicos dormem sobre superfícies duras (chão do hall ou as gramas do pátio), valendo-se do conforto limitado que podem oferecer colchões e colchonetes; acordam cedo; cumprem agendas com duas ou três reuniões diárias; enfrentam baterias de debates e negociações. “Mas temos claro que isso aqui não é uma colônia de férias”, enfatiza o estudante de Ciências Sociais, Márcio Vinícius Pedro, 20.

Para ajudar na aquisição de produtos necessários para o dia-a-dia (como comida e material de higiene), os estudantes improvisam: tornam-se artistas e/ou contam com a solidariedade de motoristas. “Tem uma galera que faz malabares e a gente faz pedágio também”, detalha um dos acampados. Mas o dinheiro não vem só dessa fonte. O DCE também usa suas reservas para garantir a satisfação das necessidades materiais básicas.

Os percalços do dia-a-dia, entretanto, têm peso irrisório diante da certeza de êxito dos estudantes. A confiança vem de exemplos de outras instituições, que já migraram do voto proporcional ao paritário. Conforme o primeiro vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Bruno Elias, 23 – que também está acampado – já são 24 as universidades que adotaram a votação paritária para reitor. “Penso que vamos conseguir”, diz, otimista. Em poucas palavras, Bruno define o que ocorre, há 12 dias, na UFMS: “Isto aqui é uma resposta para quem dizia que o movimento estudantil havia morrido”. E não há como ignorar a força dessa resposta.

Crédito: Osvaldo Júnior/Midiamax
Confira na íntegra aqui.

Um comentário:

Observando a Natureza disse...

que seja feita democracia!!!